segunda-feira, 19 de outubro de 2009

TEMPO CORRIDO


A qualquer lugar aonde vou, alguém fala que o ano está acabando. Passando rápido demais. Parece que foi ontem que meu filho nasceu. Fez 1 aninho nesse Sabado. Uma graça. O tempo esta cada vez passando mais rapido. E a cada ano acho que piora. Se levar em conta a percepção geral, a cada ano o ano passa mais rápido e acaba mais cedo. Essa nossa gincana cronometrada é terrivel. Cada vez acordamos mais cedo e dormimos mais tarde. E estamos sempre atrasados e devendo tarefas para todo mundo.Vejo todo mundo almoçando com seus aparelhos na bandeja, jantando com o iPhone ao lado do prato. Há celulares ao lado das velas em jantares românticos. Tornou-se normal fazer sexo ou mesmo dormir com o celular ligado. Será que somos tão importantes assim que não podemos ficar desconectados? O celular toca o tempo todo. Recebemos centenas de e-mails exigindo resposta imediata. De repente, tudo virou urgente. Todos que nos procuram têm demandas. E tudo era para ontem.

Percebo agora o quanto deve ser chato ser Deus. O twitter nos mostrou isso. Já imaginou?

Vou desligar o celular nas refeições, quando chegar em casa, nos fins de semana. Quero reservar um tempo determinado para verificar e-mails, responder conforme minhas possibilidades. Pretendo me tornar mais seletivo na hora de buscar informações na internet. E levantar para conversar com alguém que está perto em vez de mandar um e-mail ou um torpedo. Quero voltar a ter mais tempo para livros, filmes, viagens por estradas reais e pessoas que amo.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Escutar e falar alem da conta


A maioria das pessoas só quer contar da sua historia. Acho que as pessoas falam muito.
Acho que nunca escutamos tão pouco. Em relação ao meu trabalho preciso escutar a pessoa para saber o que ela quer realmente. Acredito que mais importante do que saber perguntar é saber escutar a resposta. Escutar é mais do que ouvir. Eu me esforço para ser um bom“escutadeiro”.
É a escuta que nos leva ao mundo. E é a escuta que nos leva ao outro. Quando não escutamos, nos tornamos solitários, mesmo que estejamos no meio de uma festa, falando sem parar para um monte de gente. Condenamo-nos não à solidão necessária para elaborar a vida, mas à solidão que massacra, por que não faz conexão com nada. Não escutamos nem somos escutados. Somos planetas fechados em si mesmos. Suspeito que essa é uma época de tantos solitários em grande parte pela dificuldade de escutar.

Basta observar. As pessoas não querem escutar, só querem falar. Depois de muita observação, classifiquei cinco tipos básicos de surdos. Há aqueles que só falam e pronto. Emendam um assunto no outro. Fico prestando atenção para detectar quando respiram e não consigo. Acho que inventaram um jeito de falar sem respirar. Aí, pelo menos, ficariam quietos por um momento.

Existem aqueles que falam e falam e, de repente, percebem que deveriam perguntar alguma coisa a você, por educação. Perguntam. Mas quando você está abrindo a boca para responder, já enveredaram para mais algum aspecto sobre o único tema fascinante que conhecem: eles mesmos.

Há aqueles que fingem ouvir o que você está dizendo. Você consegue responder. Mas, quando coloca o primeiro ponto final, percebe que não escutaram uma palavra. De imediato, eles retomam do ponto em que haviam parado. E não há nenhuma conexão entre o que você acabou de dizer e o que eles começaram a falar.
Existem aqueles que ouvem o que você diz, mas apenas para mostrar em seguida que já haviam pensado nisso ou que sabem mais do que você, o que é só mais um jeito de não escutar.

Há ainda os que só ouvem o que você está dizendo para rapidamente reagir. Enquanto você fala, eles estão vasculhando o cérebro em busca de argumentos para demolir os seus e vencer a discussão. Gostam de ganhar. Para eles, qualquer conversa é um jogo em que devem sempre sair vitoriosos. E o outro, de preferência, massacrado. Só conhecem uma verdade, a sua. E não aprendem nada, por acreditarem que ninguém está à altura de lhes ensinar algo.
O fato é que vivemos num mundo de surdos sem deficiência auditiva. E uma boa parte deles se queixa de solidão.

Quando não escutamos o mundo do outro, não aprendemos nada. Acontece com o chefe que não consegue escutar de verdade o que seu subordinado tem a dizer. Assim como acontece com a mulher que não consegue escutar o companheiro. Ou o amigo que não é capaz de escutar você. E vice-versa.

Escutar é talvez a capacidade mais fascinante do humano, por que nos dá a possibilidade de conexão. Não há conhecimento nem aprendizado sem escuta real. Fechar-se à escuta é condenar-se à solidão, é bater a porta ao novo, ao inesperado.
Escutar é também um profundo ato de amor. Em todas as suas encarnações. Amor de amigos, de pais e de filhos, de amantes. E até o chefe ou o subordinado. O que ele realmente está me dizendo?

Observe algumas conversas entre casais, famílias. Cada um está paralisado em suas certezas, convicto de sua visão de mundo. Quem só tem certezas não dialoga. Não precisa. Conversas são para quem duvida de suas certezas, para quem realmente está aberto para ouvir e não para fingir que ouve. Diálogos honestos têm mais pontos de interrogação que pontos finais. E “não sei” é sempre uma boa resposta.

Escutar de verdade é se entregar. É esvaziar-se para se deixar preencher pelo mundo do outro. E vice-versa. Nesta troca, aprendemos, nos transformamos. E, o melhor de tudo, alcançamos o outro. Acredite: não há nada mais extraordinário do que alcançar um outro ser humano. Se conseguirmos essa proeza em uma vida, já terá valido a pena. Conectar-se ao mundo do outro com toda a generosidade do mundo que é você. Algo que mesmo deficientes auditivos são capazes de fazer.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Sentido do trabalho


Conheço mais gente que detesta o que faz. E o curioso é que muitos dos que não gostam falam mais de trabalho do que eu. Não do trabalho em si, mas do ambiente do emprego. Parecem presos às disputas de poder, às fofocas, a quem está sacaneando quem, ao que o fulano disse ou deixou de dizer, aos supostos privilégios de um em detrimento de outro.

Fiquei pensando por que eu adoro trabalhar. Primeiro, para mim há uma diferença fundamental entre trabalho e emprego. Na minha divisão pessoal, o emprego é o lugar onde eu trabalho. Se meu emprego permite que eu trabalhe, é um bom emprego. Se não permite, é hora de sair em busca de um que me deixe trabalhar. Então, é uma relação de troca, para além do salário. Eu faço da melhor maneira aquilo que sei fazer de melhor, e o emprego me dá as condições e a autonomia para que eu possa fazer o melhor que sei fazer.

Por isso sou feliz no trabalho. Não trabalho apenas para ter um salário que me permita adquirir bens, nem trabalho para agradar um chefe. Ter um bom salário e um chefe satisfeito é o melhor cenário. E é importante. Mas meu horizonte está além. O que tenho é um projeto de vida que, naquele momento, coincide com o de um superior, de uma empresa. Coincide, mas não está preso a ele. Acredito que todos ganham quando um projeto coletivo é construído não por escravos modernos e corporativos, mas por gente livre.

Quando você dá sentido ao seu trabalho, você não se deixa alienar. Seu trabalho não se torna algo separado de você, um produto que não é seu. Ao contrário. Ele é você, contém você, tem nele o seu desejo. Como expressão de sua passagem pelo mundo, seu trabalho lembra a cada dia de quem você é e do que realmente importa. Se isso não acontece, talvez seja hora de mudar. Não apenas de emprego, não somente o que está fora de você, mas algo um pouco mais profundo, bem mais fundo, mas que pode condenar ou libertar a sua vida.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Conversas paralelas


Nessa hora muitas pessoas estão vendo filmes ou no cinema. Lembro do tempo quando as pessoas abriam a boca ou conversam durante o filme recebia um shhhhhhh. E voltava ao estado silencioso de onde nunca deveria ter saído. O respeito ainda existia. E como todos sabem, eu sou fanatico por cinema. O cinema é parte do que sou. Muitos foram os filmes que moldaram meu caráter. Assisto filmes com todas as emoções possiveis. Isso aprendi do nada com uma colega minha. Apesar do jeito dela de mandona e um pouco rude do modo de falar, muitas vezes desnecessario, era estranha. Quando assisti com ela um filme de terror, e ao decorrer do filme comecei a rir por causa de algumas cenas impossiveis, ela me deu um esporro dizendo que o filme estava perdendo a essencia. Com o seu jeito "delicado" de falar,disse que eu estava vendo um filme de terror e não de comédia. Apartir daquele dia, ficou guardado a mim essa reverência. Assisto aos filmes com o mesmo respeito com que acompanho a apresentação da orquestra no Teatro Municipal ou um show de rock. Seja um filme japonês ou uma sessão da tarde. Mesmo um filme sendo ruim, é desrespeito sair pela metade. Fico. Pelo cinema.

Não é uma questão de estilo, de gosto. Sem sair do lugar, vivo outras vidas, viajo por lugares desconhecidos, me emociono (Homem não chora, se emociona) rio, e me apaixono. Sentado ao lado de desconhecido, passo por todos os estados de alma de uma vida inteira sem trocar uma palavra. Aonde sinto a energia coletiva. um exemplo claro é o filme "A paixão de Cristo". Sem cometarios.

Ainda sou da turma do shhhhhh. É estarrecedor, mas os conversas paralelas venceram. Porem essas conversas paralelas estão sendo inovadas. A alegria de pobre dura pouco. Estava tranquilo e bem feliz com poltronas vazias ao meu lado durante o filme "Os Normais 2". Um otimo filme dirigido por José Alvarenga Jr, que eu acredito ter agradado o publico, que deu boas risadas. Porem as risadas e cometarios teriam que ser na hora certa. Alem de eu ser atropelado e pisotiado por duas mulheres no escuro do cinema, elas não paravam de falar. E ainda por cima em Inglês. Duas gringas vendo filme brasilieiro. Agora as conversas paralelas no cinema estão sendo poliglotas. Até pensei em falar “Shut up!” Mas optei pala uma palavra mais agressiva. E acho que as gringas tagarelas entenderam.

Resolvi dar uma de maluco e mudar. Inves de chegar cedo ao cinema e escolher um bom lugar pra ver o filme, resolvi chegar um pouco mais tarde. E pensei: -Dessa vez eu que vou atrapalhar a sessao dos outros. Mas percebi que minha sessão estava arruinada. O barulho de uma senhora que comia pipoca era estagnante. O barulho do saco de pipoca era uma coisa irritante. E na minha frente era um casal namorandos, na qual eu era obrigado a ficar escutando gemidos de prazer da mulher sendo bolinada. E atras de mim, era uma turma de adolescentes. Com ótimos papos. Pagavam para falar no escuro. Poderia ser uma nova modalidade de fetiche: gente que gosta de pagar ingresso para impedir os outros de ver um filme.

Mas as conversas paralelas no cinema parecem não ter fim. Acham que, sim, pagaram o ingresso, podem falar à vontade. A situação se agravou. Sem eu perceber eu chamo confusão. Um dia, um amigo pediu silêncio a um homem que sentava atrás de nós, com seu filho de uns 10 anos. Adivinha qual foi o exemplo de educação que o pai deu ao seu pimpolho? “Ficar quieto o cacete!”. Quando levantei, meu amigo implorou para mudarmos de lugar. Afinal, os incomodados que se mudem.

Minha ultima tentativa foi frequentar sessões matinas. Do meio dia. Antes de trabalhar. E descobri que as conversas não existiam. Cinema vazio. Porem não havia emoção. Mas não desisto. Irei enviar uma carta o pessoal do "Panico" pedindo uma campanha: Volte o silencio nos cinemas.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Vida Louca


A cada manhã acordamos e agradecemos por mais um dia a Deus. Fingimos que nunca vamos morrer. Queremos esticar a vida ao máximo. Alias também a queremos também vivenciar a nossa juventude e estarmos sempre felizes. A saude tornou-se um valor absoluto para a nossa especie. Agora tem as cirurgias plasticas, alimentos organicos, lights e os diets, isto é, movimenta uma grande industria alimentada pelo nosso medo de envelhecer. Tendo em visão que a nossa velhice e a morte não podem ser burladas. Um número cada vez maior de pessoas consome seus dias numa rotina de cuidados para preservar saúde e juventude.

Estava vendo uns videos na internet. E por acaso vi alguns videos do Cazuza. Por causa do meu tio e padrinho cheguei a conhecer-lo. E vivenciei algumas de suas historias. Cazuza contraria todos os valores de uma vida plena de saúde física. Nada mais distante de Cazuza do que essa cidadania cheia de proibições. O maior poeta da minha geração, morreu jovem, ao fim de uma vida de muito sexo, álcool, drogas, amores e poesia. Mas não foi a morte precose que me deixou perplexo. É a vida de Cazuza. Percebi que, com sua vida intensamente vivida, Cazuza questiona um valor que nos é muito caro: a duração da vida.

Cazuza dizia que via a cara da morte e ela estava viva. Mas o que Cazuza fez foi nos confrontar com sua poesia contundente. Proponho um outro valor para medir a vida: não mais o comprimento da vida, mas a largura. Quando meu tio e padrinho contam algumas histórias de Cazuza, vejo que não é uma vida desperdiçada, mas uma vida sem um segundo desperdiçado. Cazuza aponta seu dedo atrevido para a nossa vida condenada não pela doença, mas pela saúde. Para a nossa vida que não bebe, não fuma, corre quilômetros numa esteira sem chegar a lugar algum, não come feijoada nem churrasco por causa do colesterol, dorme pouco e trabalha a maior parte do tempo em que está acordado para poder comprar todos aqueles artigos de consumo que supostamente vão tapar o buraco deixado por essa vida sem vida.

Não quero que todos se bebam até parecer uma cirrose. E com isso não estou defendendo que tenhamos todos de nos matar de overdose numa grande orgia sexual. Muito menos fumar até aparecer um câncer no pulmão. A intensidade só pode ser dado por cada um de nós. Como vivemos nossa vida ou nossa morte é livre arbítrio. Apenas, talvez, podemos parar para pensar com qual medida queremos viver a nossa vida desde já. O comprimento ou a largura?

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Homem 2009


O que é ser homem, hoje? Pergunta difícil. O lugar do homem no mundo contemporâneo é uma excelente pergunta ainda com poucas respostas. Tenho observado meus amigos e conhecidos, tentando entender as mulheres esperam de nós. O mundo muda constantemente. E poucas pessoas sem coragem de fazer uma pergunta mais perigosa, que eu mais gosto : - Qual é o seu desejo? Perguntar sobre o que somos é sempre uma indagação sobre o desejo. Penso que os homens heterossexuais têm se perguntado muito pouco sobre seu desejo.

O “Homem novo” seria uma mistura de ursinho fofinho com King Hong (meigo, mas com pegada). Potente, mas voltado apenas para a satisfação do desejo. Temos de alcançar, pontos nebulosos cada vez mais avançados no alfabeto. O “homem novo” deve ser sensível, mas se falhar na hora H, as mulheres contarão do “fracasso” para a amiga com secreta insatisfação no dia seguinte. E ele nunca mais será olhado com o mesmo respeito. Tenho observado e conversado com mulheres por aonde eu passo. Muitas sustentam a casa, criam os filhos e não sabem bem para que serve o homem dentro de casa. Algumas parecem manter os maridos por uma crença de que é importante, uma questão de status na comunidade.

Também nós sofremos e nos confundimos o tempo todo. Assim como continua não sendo fácil ser gay, lésbica ou coisa parecida. Penso que são os homens heterossexuais que hoje vivem um grau variado de repressão. Sofremos sem ousar perguntar quais são nossos desejos.